I Salão Serigy de Arte Contemporânea


Coletiva

dezembro, 2022

Casa Cosmos, São Cristóvão

curadoria de Jhon Eldon, Juliana Vila Nova e Shirley Melo (Bruxxa) 


"Isto é um convite para o conflito"

Papel couchê, 300g, fosco

42 x 59,4 cm

2022


Escrevi o texto de apresentação da exposição coletiva Salão Serigy de Arte Contemporânea, realizada durante o Fasc (Festival de Artes de São Cristóvão), em 2022, pela Bibok Cultural. 


No texto, reflito sobre a criação de uma programação paralela ao festival, que, assim, pode chamar a atenção para um conflito indissolúvel entre artistas e instituições. Juntas, a programação oficial e a programação paralela criam um jogo de correspondência.


---


Isto é um convite para o conflito


Na fotografia de divulgação do Salão Serigy de Arte Contemporânea, um par de olhos faz um convite: quem decifra-o, assume um conflito; melhor dizendo, faz a manutenção de um conflito, sustenta-o.


O conflito tem a ver, no Fasc (Festival de Artes de São Cristóvão), com o jogo de correspondência entre a programação “oficial”, aquela financiada pelo poder público, e a programação “paralela”, aquela sem financiamento do poder público, nem privado, logo autônoma, logo independente. Esta, uma vez que vem a público, revigora a força institucional das exposições coletivas e dos espaços de formação daquela. E não só.


A existência do Salão Serigy de Arte Contemporânea chama atenção para uma série de invenções da qual a comunidade artística precisa dar conta. Pois artista, no estado, não só faz as próprias obras, mas também cria os espaços de recepção, caso queira garantir o mínimo de fala-escuta — ao mesmo tempo, a criação de espaços de recepção para a arte sergipana deveria ser uma tarefa contínua do poder público em todas as esferas, a municipal, a estadual e a federal (por contínuo, falo do tipo de trabalho que deve ocorrer nos 12 meses de um ano). E, para o poder público, não se trata só de garantir as condições materiais para os espaços de recepção; trata-se de garantir, sem cessar, as condições materiais para a existência dos espaços de formação e prática artísticas salvaguardando a saúde da comunidade, uma vez que isso — verdade seja dita — é produção de bem-estar.


Mas eis o que surge da manutenção do conflito: a força comunitária, sobretudo a força comunitária de artistas que, heterogêneas e heterogêneos, organizam uma unidade, aquele tipo de unidade que cria um dentro porque se experimenta por meio das bordas daquilo que vê como um dentro, o que é outra correspondência. A correspondência entre dois estados, Sergipe-Serigy — neste caso, não falo de unidades federativas com fronteiras bem distinguidas. Falo do acontecimento que produz as vias opostas. Falo do salão, o acontecimento.


As vias opostas — isto é, a maneira pela qual cada espaço de artes se constrói — precisam existir, e as obras do salão nesse jogo de correspondências são as obras que acumulam camadas de politização; elas constroem, pois, relações entre si e entre o que está fora em escalas variadas. A escala do salão, a escala do festival e a escala das artes sergipanas, que nem sequer é a última escala de relação dessas imagens.