Alguns mecanismos de inspeção


Série fotográfica 

Novembro de 2022

Aracaju


Começo falando deste projeto de narrativa fotográfica a partir de uma palavra do título: inspeção, para mim, é uma maneira de remeter à prática fotográfica e ao significado da palavra “atalaia” — palavra que dá nome a um dos bairros pelo qual fui responsável no projeto do Prêmio Salão de Fotografia 2022, da Funcaju (Fundação Cultural Cidade de Aracaju). 


Atalaia é aquele ou aquela que vigia ou um lugar elevado de onde se vigia, o que faz que o título deste trabalho exponha uma relação etimológica. 

Mas o conjunto de relações não se encerra aí.


Essa palavra — que é, ao mesmo tempo, um topônimo, isto é, o nome de um lugar — tem, se avançarmos nas associações, um valor em comum com quem fotografa, pois, quem tem em mãos uma câmera no espaço público, pode registrar os passos dos anônimos. Pode, como diz Walter Benjamin, ter acesso ao “inconsciente óptico”, aquilo que está dado no real, mas não é perceptível para o olho humano na maioria das vezes.


Minha estratégia, na produção deste trabalho, teve a ver, sobretudo, com esse mecanismo de vigilância. Vigiei a paisagem e as pessoas em três bairros: 13 de Julho, Atalaia e Coroa do Meio, durante cinco diárias no mês de novembro de 2022; três bairros peculiares que concentram zonas de lazer variadas, como parques, praias e shopping. Ao mesmo tempo, minha estratégia, na produção deste trabalho, teve a ver com a instalação de um desvio óptico — o desvio das imagens que atribuo valor turístico, aquelas imagens que dão evidência, justamente, para os pontos de lazer. 


Para seguir com a pesquisa de valor etnográfico, preferi abdicar do registro desses pontos turísticos — ou, quando estive neles, do registro dos monumentos ligados a esses pontos turísticos —, pois, a meu ver, a prática fotográfica deve ampliar a esfera do visível — por esfera do vísivel, falo do conjunto de imagens que faz parte do tecido imagético individual e coletivo. 


Preferi, por sinal, manter distância das figuras humanas, assegurando o meu anonimato, assim como o anonimato das personagens. No entanto, me aproximei, quando possível, das figuras não humanas, aquelas que indicam os vestígios do humano no espaço público; os vestígios por meio do descarte ou da mímese: roupas e manequins, por exemplo. Isso foi possível graças ao uso de uma lente 50 mm, aparato com o qual uniformizei o trabalho.


As escolhas metodológicas e técnicas se vinculam ao meu olhar crítico não só neste, mas noutros trabalhos fotográficos. No geral, quero revelar o que é estranho ou, registrando o comum, revelar o que há de estranho em imagens registradas de ângulos que não estão acessíveis ao engajamento do corpo humano no dia a dia, seja a paisagem, seja a figura humana. 


Por isso que, em alguns casos, o conjunto de imagens fotográficas deste trabalho exigia de mim uma posição corporal diferente do ato de ficar em pé e clicar no obturador. Ficar de cócoras ou ficar na ponta do pé eram as opções.