Criação de Tilápias


Primeira edição

28 de outubro de 2023, 15h30

Matagal Artesanato (Avenida Desembargador Maynard, nº. 105, sala 05, Aracaju)


A editora da Tilápia-azul, Luís Matheus Brito, apresenta dois procedimentos performáticos na primeira edição do Criação de Tilápias, evento dedicado ao cruzamento de linguagens artísticas — desta vez, a literatura e a performance. 


O jogo performático de Luís Matheus se baseia em textos que têm em comum a correspondência entre a experiência amorosa e a paisagem urbana. Melhor dizendo, a construção de uma técnica que não desvincule o acontecimento do lugar no qual ele se desenrola, seja real, seja imaginário. 


Inéditos em livro, os textos — antes que se lancem às páginas — ganham a voz humana como suporte. No primeiro caso, a artista apresenta o monólogo Buganvílias, que narra um triângulo amoroso adolescente. Em seguida, apresenta poemas de D’plagas, livro de poesia que está em desenvolvimento. Por fim, inicia uma conversa com os participantes a respeito do trabalho literário e performático.


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Buganvílias, o primeiro caso, é um monólogo com o qual a poeta faz uma reflexão sobre a paisagem de um bairro fictício, o “Sombreiro”, que é povoado tanto de árvores homônimas quanto de mata-fomes. No “Sombreiro”, a memória da narradora captura uma paisagem dentro da qual o tempo afeta tão-somente os moradores, que, na maioria das vezes, seguem um percurso de vida tradicional — enquanto outros elementos, é claro, nem sequer sofrem alterações.


Um trecho de Buganvílias:


Ato 1


Os pais de S. moram a alguns metros da casa dos meus pais. Quando os visito, passeio pela vizinhança com frequência.


Eu me importo em rever os rostos e — a cada encontro — perceber como a postura, a pele e os cabelos mudaram (não só daqueles com os quais já mantive algum contato, mas também daqueles com os quais nunca troquei um “bom dia”, e essa indiferença precisa continuar como indiferença; é uma indiferença de classe entre quem optou pela vida exposta à comunidade e quem optou pela vida em círculos cada vez mais oclusos — em alguns casos, estes vão embora do bairro ou, na pior das hipóteses, mudam de quarteirão e constroem casas com portões adequados à vida escusa).


Os pais de S. e os meus pais moram no mesmo quarteirão, e eu só o via enquanto morava no mesmo bairro. Às vezes, vejo o irmão mais novo de S. — com quem ele mais se parece. Os penteados são idênticos.